quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Desnovidades

Faz tempo que não apareço por aqui. Acho que é um pouco de bode da internet. Doze ou treze anos depois da primeira conexão, pouco me surpreende ou interessa de verdade. Tudo é um pouco mais do mesmo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Retratos da barbárie

(Artigo publicado originalmente no jornal Comércio do Jahu em 29/11/2007)

O caso da garota presa no Pará em uma cela com 20 homens e o desabamento no estádio Fonte Nova, em Salvador, são, em boa parte, o retrato possível do Brasil hoje. A eles somam-se mais algumas aberrações deste trem-fantasma tupiniquim como a epidemia de dengue, que cresce em vez de diminuir, a leniência com políticos descaradamente confessos de maracutaias com dinheiro público e o aparente desprezo pelo mínimo de zelo necessário com a população.
Parece que estamos condenados a eternamente oscilar entre uma sessão nostalgia da Idade Média e a ânsia por nos mostrarmos uma nação moderna e com os pés no futuro. A verdade é que agarramos o atraso com as duas mãos, pois abandoná-lo significaria romper com nossa herança colonial e deixar o conforto da casa-grande. Teríamos de aprender como nos sentirmos mais responsáveis por nossas próprias escolhas e agir de acordo com isso. Não é à toa que pesquisa recente mostrou a vergonha como o sentimento mais comum de 37% dos adolescentes brasileiros diante da política, ao mesmo tempo em que pouco ou nada se mobiliza para mudar o quadro que aí está.
Não fosse assim, jamais aquela adolescente teria permanecido por tanto tempo na cela no Pará, sendo ignorada mesmo por quem, da rua, a via pedir ajuda; não fosse assim, não estaria a maioria dos estádios brasileiros sem condições de oferecer segurança aos torcedores.
Existe também outro indicador pernicioso e ao mesmo tempo sem qualquer relevância, por ter se tornado tão comum: por aqui, prevenir ou agir para evitar que as coisas piorem é algo reiteradamente esquecido. Ou é mero acaso o fato de que no caso do estádio da Fonte Nova nada se fez diante das ava-liações que alertavam para os problemas, e agora se fala em implodir o local? Provavelmente, oito mortos e diversos feridos seja um preço ainda pequeno para tanta incompetência.
Essa aparente incapacidade de pensar as responsabilidades individuais e coletivas é algo tão entranhado nesta salada tropical em que nos transformamos que permite até mesmo o cinismo de quem deveria zelar pela chamada coisa pública. Enquanto finalizo este artigo, leio texto da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, sobre o caso da adolescente mantida na cadeia. Ela diz que “no caso da adolescente, o governo tomou medidas imediatas”.
É ridículo e conduz a um raciocínio errado, pois parece que o único governo possível é o que existe nos gabinetes refrigerados, seja em Brasília, nas capitais estaduais ou em qualquer prefeitura. A polícia, se não pode ser chamada exatamente de governo, faz parte do Estado. E foi o mesmo delegado, um infeliz que levantou a suspeita de a garota ser mentalmente incapacitada por não ter “declarado maioridade”, que a manteve na cadeia. O Estado a manteve presa e a deixou ser estuprada pelos outros ocupantes da cela.
É também o Estado o único e principal responsável, por exemplo, quando não se cumprem normas mínimas legais para a dignidade do cidadão, como ao não se adequar o acesso de portadores de deficiência nas vias públicas – ou mesmo quando não se exige que empresas o façam em suas dependências. É o Estado a quem cumpre, além das campanhas contra a dengue, se for necessário forçar a entrada de agentes de fiscalização em locais onde eles sejam impedidos de trabalhar.
Perder a capacidade – ou jamais exercê-la - de avaliar e exigir respeito e eficiência por parte de qualquer governo revela, em parte, o grau de civilização a que chegou um povo. Não são necessá-rias grandes mobilizações, passeatas heróicas, enfrentamentos suicidas. Ações menores às vezes bastam, como participar do conselho escolar, utilizar ouvidorias e cobrar respostas dignas, além de procurar, se necessário, meios judiciais como as procuradorias. E, claro, fazer valer sempre algo tão simples quanto poderoso que é o voto.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O cúmulo do acúmulo

Caro ministro Nelson Jobim, esta semana encontrei uma declaração sua em notícia na internet da qual só não dá para dizer que “caiu do céu” porque ultimamente esta é uma piada de muito mau gosto. Dizia V.S.ª “que haverá problema de acúmulo” de passageiros nos aeroportos durante o feriado.

Pois ora, veja só, ilibado ministro, até onde vai meu pouco conhecimento sei que é possível acumular capital e fortuna, por exemplo; ou, ainda, acumular ações da Petrobrás - aliás, este um negócio tão bom que até o companheiro Chavez quer entrar na dança com uma tal petrolífera das Américas ou coisa que o valha. Também dá para acumular cargos, mas isso, tenho certeza, o governo que o emprega não autoriza nem pratica; há quem acumule livros, um hábito sensacional não fossem eles feitos para passar de um leitor a outro em vez de ficar guardados.

Agora, com toda sinceridade, ministro, gente não se acumula, a não ser naqueles vagões hediondos em que os nazistas transportavam prisioneiros para os campos de concentração, ou nas valas comuns em que se acumulavam corpos e sonhos desfeitos a base de cal.

Gente, ministro, às vezes simplesmente sofre, e por diversos motivos. Um deles, ao menos nos últimos tempos, é a inépcia de quem cobra impostos e não os devolve em forma de serviços razoavelmente bem prestados. Exemplos não faltam, e estes sim podem até se acumular. São aposentados que sofrem com processos intermináveis e se tornam vítimas fáceis dos piratas do crédito consignado (autorizado oficialmente pelo mesmo governo para o qual o senhor trabalha, inclusive um banco para quem um romântico senador facilitou a entrada neste mercado bastante interessante); são consumidores engambelados por companhias telefônicas cujo atendimento é instantâneo na hora da venda, mas torna-se incrivelmente moroso e difícil quando, por direito de consumidor, se tenta cancelar qualquer produto ou serviço; ou ainda jovens que acumulam déficits impensáveis na escola por conta de políticas tortas em educação.

Enfim, a lista de acúmulos muito piores do que passageiros à espera de um avião é bastante razoável.

Contudo, prestativo ministro, sua esclarecedora previsão de caos nos aeroportos nos dá a chance de perceber algo importante, que é como todos somos vistos pelas “otôridades”. Cidadãos que tentamos ser, nos resta apenas a condição de coisas. Porque coisas se acumulam. Há também coisas que voam, como os familiares mortos na recente queda de um jatinho em São Paulo. Um brigadeiro da Aeronáutica comentou que o Campo de Marte, de onde o avião decolou, era vetado a autoridades por não oferecer todos os requisitos de segurança. Quer dizer, autoridade com cargo nomeado é mais gente do que os outros e não voa por ali por falta de segurança, mas o resto que se dane. Quem manda querer voar, ainda mais de jatinho?

Nem precisa ser apenas com jatinhos. Sugiro, intrépido ministro, que o senhor, além de visitar a Amazônia em uniforme camuflado (fico pensando qual será sua opção se for convidado a desfilar no carnaval carioca...), passe uma semana em ônibus de linhas circulares, especialmente em São Paulo. É um primor de acúmulos. Ou que acompanhe de madrugada as filas nas consultas do sistema público de saúde.

Talvez o senhor perceba que escolheu a palavra errada. Não é acúmulo. É o cúmulo, ministro.

(Publicado originalmente no jornal Comércio do Jahu em 14.nov.2007)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Comunicação, vestibular e mercado

Esse povo gosta é mesmo de comunicar. Jornalismo é o curso mais concorrido no Fuvest 2008, com 41,63 candidatos/vaga na ECA (Escola de Comunicação e Artes). Tudo bem, são poucas vagas (apenas 60) e o número total de inscritos é menor do que em Medicina, também na USP (12.973 candidatos), mas ainda mostra o vigor e a excelência da maior universidade do País.
Em que pese a crise no setor de comunicação, com mais veículos disputando as mesmas verbas publicitárias e, em alguns casos, excesso de profissionais no mercado, o que se vislumbra é o crescimento das oportunidades.
A questão, no entanto, parece ser a encruzilhada na qual está o setor: jornais procuram alternativas para não perder leitores; blogs ainda ensaiam uma postura mais firme como referenciais de informação, mas ainda são incipientes; veículos tradicionais da mídia eletrônica, como a tevê e o rádio, tentam encontrar um casamento ideal com internet e redes de celular mas ainda não firmaram um formato que se prove estável e lucrativo.
Em todo esse meio de campo ficam jornalistas, publicitários e toda essa fauna que caminha das redações aos estúdios, dos meios ditos reais aos virtuais. Ainda falta um tanto para saber no que vai dar.
A matéria do Estadão online sobre o Fuvest 2008 está aqui.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cai, cai, balão....

E mais essa, agora: o zeloso brigadeiro Ramon Borges Cardoso, diretor do departamento da Aeronáutica responsável pelo controle de tráfego áereo, disse que autoridades não decolam ou aterrissam no Campo de Marte pois há um rigor maior nos vôos com ministros e outras personas federais.
Não é ótimo saber que a pouca segurança por ali sequer preocupa as "otôridades" quando é apenas a plebe que utiliza o Campo de Marte? Bem entendido: uma plebe branca, bem instruída e bem nascida, capaz de voar em jatinhos. E podem utilizar um local vetado aos manda-chuvas porque segurança, mesmo, só vale para eles.
Sintomático da esbórnia em vigor nesse país há uns meros 500 e poucos anos. Ilustra bem essa indolência tupiniquim com o descaso, a falta de pulso em cobrar e exigir um pouco mais de respeito e consideração. Vamos mesmo nesse passo, com aviões caindo, acordos amigos e benfazejos para a Bolívia, as tarifas públicas nas alturas e as tropas de elite rosnando umas para as outras.

Em tempo: avião é bolinho. Dê um rolê durante algumas semanas nos ônibus paulistanos e veja a maravilha que se tornou o sistema com a redução de frota e mudanças nas linhas.

domingo, 4 de novembro de 2007

Madrugada

Ouvir Miles Davis torna tudo o mais desnecessário. E na maior parte do tempo, exercitar o desnecessário é a única coisa importante a fazer, a salvação de toda loucura, o anti-infarto, a saída pela esquerda.
É quando a noite desce sobre o coração feito chuva fina de madrugada, cheirando a orvalho fresco e aos cachorros vagabundos que não buscam nada em ruas adormecidas; é quando se pede perdão por não se pedir perdão quando há alguém para escutar, quando todo texto termina assim, sozinho, por conta própria.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O segredo do segredo

Diz a propaganda que todo mundo só fala num tal de Segredo. Claro, o dito cujo não é de graça: precisa comprar o DVD ou ler o livro. De preferência, ambos. Mas não é necessário tanto. Um pouco de atenção, aquela pausa básica pra pensar na vida e pronto: o Segredo não tem mais segredo. Descobre-se tudo na maior moleza.

Como em sessões de fisioterapia, por exemplo. Você fica lá, faz um alongamento aqui, um exercício ali, e parte para o inevitável "choquinho". Nada pesado, longe de neurônios fritos e lobotomias definitivas. Apenas uns repuxões e uns tremeliques - no joelho, sempre ele, bem entendido. Ora, pois.
Então sucede que o tempo escorre. Mui lento. A fisioterapeuta faz aquela saída estratégica ("qualquer coisa chama, tá?") e você ali. Você e algumas revistas que já têm idade para tirar habilitação, votar e ter responsabilidade penal. Só perdem para as de consultório de dentista, cujos temas normalmente variam entre os últimos lançamentos da indústria do aço e a situação sociocultural dos esquimós em algum reduto na Finlândia.
Enfim.
Mas o universo, às vezes, conspira. E foi na fisioterapia, folheando uma daquelas revistas de estética-alimentação-vida saudável (na verdade, panfletos escravizantes com mensagens subliminares) que caiu a ficha: há em curso uma conspiração para enganar uma multidão de infelizes, insatisfeitos e depressivos. Tudo muito lindo e embalado com papel crepon vermelho, mas ainda assim, terrivelmente perverso.
Pois dizia na revista que um médico americano (mais um) criou uma tal infalível "Dieta dos 7 Passos para Emagrecer e Acabar com o Efeito Sanfona"...Quem nunca reparou, veja e perceba: TUDO QUE É MILAGROSO CARREGA O NÚMERO 7!
O guru do alto-astral empresarial, Steven Covey tem os seus "7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficientes". O dr. Phil (o tal do efeito sanfona...)vem com a tal "Dieta dos 7 Passos"...até a Bíblia tem lá os seus 7 selos no Apocalipse! E tem quem ainda acredite nas bestas do Apocalipse - se bem que, nesse caso, besta é o que não falta nesse mundão.
Oras. E 7 não é o número da mentira? Então! Aposto que o Covey a-do-ra ver todo mundo achar o máximo os tais 7 hábitos...e nada de ganhar bufunfa com isso, que, no fundo é o objetivo mesmo dessa parolagem de "ser eficiente", "investir no relacionamento".... Eficiente mesmo, só ele, que fatura os seus zilhões às expensas dessa plêiade de desavisados. E o dr. Phil? Alguém aí já viu dieta funcionar mesmo, ali, no duro? A gordinha ir para a capa da revista com corpaço de mulher inflável e o bonitinho virar Mr. Universo? Então, tá. E a dieta da lua? O ciclo lunar não tem 7 DIAS???
E os 7 pecados capitais, hein? Hein? Quem "agarantche" ser pecado matar aquele leite condensado que implora por isso na despensa? Entupir-se de pancetas regadas a uma bem gelada? Gula? Luxúria?

Ora....Inveja? Não é a inveja que move o mundo e os salões de cabeleireiro?
Tudo isso cheira a uma grandessíssima fraude para nos fazer carneirinhos.
Aguardem. Em breve lanço o imperdível "As 7 Fraudes que você precisa conhecer". Nas bancas e em DVD.
(Publicado no jornal Comércio do Jahu em 18.10.2007, p. 2)

Palestra e artigo

Fiz palestra ontem para o pessoal do 4º ano de Letras das Faculdades Integradas de Jaú, na Jornada de Educação 2007. Foi bacana. Pouca gente - fiquei sabendo q o povo aproveita a semana de palestras para faltar, vai entender - mas acho q as discussões foram boas. Pensamos sobre estratégias de leitura em sala de aula, especialmente para crianças. Ainda é um problema sério: uma das meninas comentou que o sobrinho está perdendo o tesão por leitura com a obrigatoriedade de fazer resumo de livros. "Tarefa" da escola para um garoto de dez anos! Resumo de livro é o óbvio do básico, desnecessário e chato. Melhor discutir a história com os colegas, criar outros finais, entender o contexto. Quem quer saber da mesma história que já leu, principalmente aos 10 anos? É de matar.
Hoje saiu mais um artigo no Comércio. É este que está logo aí pra cima.
À noite, outra palestra. Desta vez, no Senac. O tema: "Educação e novas mídias: que aluno é esse?". Tem sido um problema pra muitos colegas em sala de aula. A galera anda ligada demais em tecnologia e isso bate forte na hora de aprender. Como ensinar na base do giz quem consegue uma informação, por exemplo, com recursos multimídia?
Ao mesmo tempo, o aluno ainda espera da escola o acesso ao conhecimento e é nela que constrói ao menos parte dos seus significados. Só não têm falado ambos a mesma língua.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Falando em quem morreu...

Morreu Paulo Autran. E, claro, pipocam depoimentos, lamentos, históricos, enfim. Um sem-número de gente que sempre tem algo a falar. O curioso é perceber que todo mundo se obriga a ter algo a falar sobre quem morre. Desconfio que quanto maior o depoimento, menor a intimidade. Quem realmente conta, não fala nada. Sabe que não precisa.
Para ler alguns, táqui.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Violência, imprensa e crítica

Luciano Huck foi assaltado. Ele e a torcida do Flamengo, mas ao menos a galera da geral já conhecia isso um pouco mais de perto. O apresentador, ao contrário, imaginou-se merecedor de homenagens póstumas em cadernos de cultura e funerais em grande estilo.
O artigo e as reações a ele viraram tema de aula nesta quinta, 04 de outubro. Há até na classe quem já tenha sido assaltado.
Seguem algumas poucas - e boas - bem-traçadas pela galera do 3º colegial da Academia.
Aos poucos, os textos que aterrissarem serão acrescentados.

Plano de aula:
a) Apresentação do tema - leitura do artigo "Pensamentos quase póstumos", do Luciano Huck, plublicado dia 01 de outubro na Folha de S. Paulo (Página A3)
b) Leitura de cartas de leitores no Painel (FSP, 02.10, página A3)
c) Produção - em duplas - de texto. Comanda: até 12 linhas em fonte 12, título com uma ou duas palavras. Parágrafos com até 4 linhas.
d) Envio para o e-mail e posterior postagem no blog


Sem título
Entendo que Huck tenha se indignado com o assalto que sofreu. No entanto se encararmos a situação de outra forma esse assalto pode ter sido bom, pois como diz o ditado “Há males que vem para o bem.”
Quem sabe agora, depois deste susto, o apresentador e seus amigos da elite de nossa sociedade, nos ajude a clamar por uma sociedade menos violenta e um pouco mais justa.
E não adianta culpar a polícia e o governo (é claro que eles têm sua parcela de culpa, todos têm), mas se não houver uma mobilização da população em geral, a situação irá continuar a mesma ou até piorar.”

Robson Henrique Pessute (Jaú, SP)


Felicitações
Diante da situação vivida por Luciano Huck, declaro a ele minhas felicitações. Meus parabéns por ser mais um dos milhares de comtemplados pela 38 na cabeça. Por ter de viver uma situação para se dar conta de que ela realmente exista.
Paulistanos chegam a considerar um assalto como banal, corriqueiro do dia-a-dia, enquanto isso, apresentadores famosos usufruem disso para ainda mais divulgar sua imagem e sua indignação.Indignação essa que muitos brasileiros sentem todos os dias, e que nem por isso precisam de uma matéria para divulgá-la no jornal.Afinal, gritos de socorro podem ser dados, pois a certeza que temos é a de que não serão ouvidos.
Há muito tempo fatos como esse vêm acontecendo, mas vão sendo diluídos, até caírem no esquecimento...Não se preocupe: na próxima semana já estaremos todos bem, sem dramas de apresentadores, comoção da mídia...os assaltos porém, estarão presentes, todavia, suas vítimas serão anônimas.
L.B.R

Vergonha nacional

Após ler o desabafo do Luciano Huck, surpreendi com a repercussão que teve o seu depoimento.

Ele deixa subentendido de que é absurdo um apresentador de televisão ser assaltado em um jardim. Com isso, algumas perguntas me vieram à mente: seria normal se ele tivesse sido assaltado num morro? O pobre não tem o direito de ter segurança?
A questão que mais chama atenção com tudo isso, que quantos “Zé Ninguém”, quantas “Marias” são assaltadas e são s consideradas mais um número nas estatísticas e no caso de um apresentador da rede Globo, há toda essa repercussão. Isso é um absurdo. Espero que o Governo tome uma atitude, não só para não ter mais o seu nome escrito nas páginas do jornal por mais um famoso que tenha sido assaltado, mas sim para que não seja eu, você, as tantas “Marias” e tanto os “Zé Ninguém” as próximas vítimas.
Por conseguinte, terminarei com trecho de uma música que representa muito a nossa atual situação: “Que país é esse?”
R.F.




Caramelos amargos

O crime é um protesto contra a anormalidade do sistema social. Contudo, esse assalto só foi apenas mais um caso que acontece a cada segundo nesse pais. Ainda vejo que a elite econômica, toda onipotente, não sofre nem um terço do que um pobre proletariado, que sai de sua casa às 4 horas da manhã para trabalhar, não tendo hora para voltar e não sabendo se retornara vivo ao seu lar, sofre.
Espero que esse desabafo -pensamentos quase póstumos- não seja em vão, mas, conhecendo o meu pais, me desaponto de ter o dom da clarividência brasileira. Já até sei como essa questão acabará: Palavras, apenas palavras, palavras pequenas... Palavras...
Gabriel Volpato

Vergonha Nacional

Diante de tantas notícias sobre violência no Brasil, o assalto ao apresentador Luciano Huck passa a ser mais um nas estatísticas. A indignação que relata é, sem dúvida, muito compreensiva. Várias pessoas, assim como ele, já passaram por uma situação semelhante, ou quem sabe, ainda pior.

O intrigante é o fato de que, por ele ser um paulistano, apaixonado pela sua cidade, onde passou a maior parte da sua vida, nunca ter passado uma situação parecida com a que descreveu na Folha. Algumas pessoas possuem uma sorte muito grande! Nada como sentir "na pele".

Será que, para acabarmos com essa vergonha, que toma conta cada vez mais do nosso país, terá que acontecer, por exemplo, um assalto que tenha como vítima a Sra. Marisa? Será que assim, o Sr. Lula, presidente da nação, acorde e perceba que o Brasil está perigoso, que até sua esposa passou a fazer parte das estatísticas e, daí, tome providências como implantar políticas sérias de segurança pública para acabar com essa vergonha nacional.
Paula Rett - Semi Noturno

Mais um
Depois de lermos a reportagem de Luciano Huck, chegamos à conclusão que houve uma exposição excessiva da imagem do apresentador, que conta sobre o assalto de maneira dramática como se ele fosse o primeiro a sofrer com esse mal.
Ele se mostrou uma pessoa alienada visto que ele mora em um país onde ocorre um dos maiores índices de criminalidade, e diariamente são vistas tragédias que não ganham tanto destaque pois ocorrem com cidadãos anônimos que trabalham oito horas em troca de um salário mínimo.
Huck, em vez de apenas se mostrar indignado, deveria apresentar alguma solução, pois trata-se de uma pessoa de grande poder financeiro e de grande influênciasobre o povo brasilero. Por isso, poderia ser um aliado na luta contra a violência.
Isabela Rodrigues, Talita Feltrin, Renata Hernandes da Costa

Pura verdade
Ser assaltado nos dias de hoje virou realmente rotina. Os paulistanos são os mais acostumados com essa violência cotidiana. Embora muito prejudicados, não saem fazendo "escândalos" pelos jornais, revistas. Não que isso não seja motivo de revolta, é sim, com certeza, mas esse enfoque só é dado quando ocorre com pessoas "destacadas" na sociedade.
O caso ocorrido com o Luciano Huck semana passada foi um dos grandes destaques e comentários da semana, mas, se pensarmos, todo dia milhares de pessoas são assaltadas. Talvez nem todos paguem suas contas totalmente em dia como disse Luciano, mas desde que são brasileiros têm seus direitos e deveres, sendo que o direito de ter segurança é o menos respeitado. Digamos que foi praticamente deixado de lado a muitos anos pelo governo brasileiro.

Bruna Mangerona


Bem-vindo

Após lermos o artigo do Luciano Huck, ficamos indignadas com o apresentador, que se achava imune a assaltos e outros problemas relacionados à violência só por pertencer à elite brasileira.
Tal situação vem ocorrendo há muito tempo em nosso país e o apresentador Luciano Huck não havia percebido, mas agora ele parece ter acordado de seu lindo sonho, e após ter vivenciado tal situação de violência, ele resolve escrever um artigo no jornal contando seu descontentamento com a sociedade brasileira e com a indiferença do Governo.
Bom, querido Luciano Huck, queríamos dizer que esse é o mundo real, essa é a verdadeira vida do brasileiro, que é obrigado a se calar diante da violência e do medo que assombra a nossa sociedade.
Aline Casalenovo e Carina A. Peralta – 3º colegial A

Sem título
No mundo inteiro presenciamos situações que nos fazem refletir para onde estamos caminhando. No dia 27 de setembro de 2007, a vítima de uma dessas “surpresas” desagradáveis, foi o apresentador global Luciano Huck, que teve seu relógio roubado em um semáforo na cidade de São Paulo. Não nos espanta nenhum pouco, pois situações como essa, ocorrem em todos os momentos, em todos os lugares. O que espanta, é a falta de boa vontade deste governo, de tomar frente e cuidar da segurança do nosso país.

O apresentador, que aguarda o nascimento do seu segundo filho, ficou assustado com a possibilidade de não conhecer seu filho, por causa de um relógio. Isso é o que acontece com todos nós, em todos os momentos, vivemos esperando qual será a próxima atrocidade, e temendo que esta bata à nossa porta.

A peça, avaliada em torno de 42 mil reais, não é nada perto de tudo que vemos acontecer, e nenhuma atitude é tomada para preservar a segurança, a paz e até a vida de cidadãos que vivem a mercê de uma classe que não tem culpa de ter que se colocar em tais condições para não ver sua família passando necessidade.

Quantos relógios, quantas vidas precisaram ser tiradas, até que uma atitude seja tomada?

Vânia Souza

Corpos Blindados
Acredito que todos estão sujeitos a serem assaltados. Isso acontece com muitas pessoas em vários cantos do país, e ninguém escreve uma coluna na Folha para mostrar sua própria revolta.
A polícia diz, conforme alguns depoimentos,“que prefere correr o risco nos “bicos” para sustentar a família, ao invés de trocar tiros com bandidos recebendo um salário base de R$ 568,29".
Sabe o que mais me entristece? Saber que a única coisa bem distribuída nesse país é a oportunidade de sermos assaltados.
Será que tudo isso vale a pena? Quando será que poderemos sair de casa para dar um volta no jardim sem correr o risco de sermos assaltados? Enfim, a nossa segurança está nas mãos do estado, e para estar imune a essa situação, só contratando segurança armada e comprando carros blindados.!

Angélica Salado
Victor Carlos de Souza Junior


Insignificância

Aristas e famosos, como Luciano Huck, estão muito mais expostos na mídia, tornando-se alvo fácil para seqüestros e assaltos nos dias de hoje.
Ninguém está imune a violência, se houvesse segurança no Brasil, não passaríamos por tal constrangimento que destrói nosso bem-estar.

O texto publicado pela Folha mostrou a revolta que o artista sentiu sendo submetido ao assalto. Mas isso não ocorre ou ocorreu apenas com celebridades. Centenas de pessoas em todo o Brasil são assaltadas a cada hora, em ruas, ou em suas próprias residências. Estamos protegidos a mesma quantia. Esse 'apelo' não vai parar com o crime.

Se ele se sentiu ‘humilhado’, outras pessoas também se sentem assim, mas não têm a oportunidade de expressar em veículos públicos como o jornal Folha de São Paulo.

Bruna Urbanetto e Helen Soriani

Vergonha
Embora haja críticas contra o artigo que foi escrito sobre o assalto à Luciano Huck essa é a pura e dolorosa realidade brasileira, que enfrentamos diariamente, através de mortes, assaltos, seqüestros, entre outros, que chocam a população.
A vergonha em que ele fala no seu texto com certeza é um sentimento de muitos outros brasileiros que sofrem a mesma situação até mais de uma vez em sua vida, mas não podem expressar a sua revolta, as vezes nem mesmo se dirigem a policia para fazer a queixa pois já consideram uma situação “normal”.
Talvez não se faça a queixa também por não se confiar na policia que se envolve em escândalos e fingem não ver o que acontece a sua volta; porém temos que exigir nossos direitos de cidadãos e cobrar os políticos que nós elegemos para que possamos ter um mínimo de segurança no nosso dia-dia.


Danilo Henrique Volpato 3ªA e Murilo Bassan 3ªB

Privilegiados

Assaltos e tentativas de homicídio acontecem todos os dias; homens, mulheres e crianças que não participam da mídia não tem a abertura de publicarem suas “experiências”. Agora, quando se trata de um artista ou cantor a primeira coisa que acontece é a publicação em jornais e revistas que acabam se tornando manchete nacional.
Não culpamos o artista de querer aparecer só por causa que tal fato ocorreu com ele, mas é que a mídia só publica esse tipo de coisa e só leva a fundo quando a pessoa em questão é nacionalmente conhecida. Até mesmo o povo se preocupa mais com o que acontece com o famoso do que esta acontecendo em sua cidade ou mesmo em seu bairro.
Até que ponto nós “pessoas comuns” temos que aceitar o fato de que só o que acontece com “ gente famosa” é divulgado e questionado pela população, sendo que isso acontece todos os dias em todos os cantos do Brasil e o governo não faz nada.

Maria Luisa Sinatura e Maria Cecília Laistner Pereti - 3ºA

Cuide-se

Luciano Huck é apenas um dos alvos da mídia e da inverdade expressa por ela, pessoas famosas e bem vistas pela sociedade sempre são alvos de polemicas e “cochichos” nem sempre verídicos.
Claro que por ter sido assaltado ele fez a coisa certa de publicar tal fato para alertar a toda população do que ocorre nas grandes cidades. Isto vem acontecendo não só com gente famosa, mas também com pessoas simples , mas o que ocorre é que as pessoas famosas ganham mais brilho e mais destaque no dia a dia do povo em situações como esta.
Pessoas arriscam sua vida por apenas objetos superficiais, óculos, celular, relógio, tudo para que? Será que vale a pena arriscar tudo o que construiu no meio tempo de sua vida por tão pouco?

Tiago .N. Galazini e Mateus Filipe de Barcelos - 3ºA

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Banda podre, ovo podre

Depois da absolvição do Renan...ainda vale esse retrato básico desse pedaço minúsculo - em todos os sentidos - do Brasil....

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O país do crédito

Nunca antes nesse país houve tanta prosperidade. Se não para todos, ao menos para os agiotas que têm a bênção da lei e a adesão dos incautos e desesperados: basta ver a quantidade de portas abertas em ruas comerciais oferecendo empréstimos a perder de vista.
É a consagração do pode-tudo nestas plagas tropicais.

sábado, 25 de agosto de 2007

Educação, cuitelinho e poesia

Fechamos mais uma matéria sobre educação. Viramos a pauta e o resultado foi uma página sobre a reforma ortográfica. Na verdade, sobre a aparente desencanação com a reforma. Pouco se sabe de concreto sobre ela nas escolas - até porque não entrou em vigor.
E a julgar pelos projetos bacanas que encontrei, não faz diferença. Quando as mudanças tiverem de acontecer, alunos e professores vão assimilá-las. E ponto. Se final, quem sabe?
O que dá para saber e conhecer são iniciativas muito boas, como as que encontramos. Na EE Capitão Henrique Montenegro, em Bocaina, alunos fizeram um "Dicionário de Palavras Chiques".
Os verbetes, até agora:

Dicotomia
Enfatizar
Metamorfose
Misticismo
Mito
Incumbir
Inovativo
Pioneiro
Diminuto
Fluidez
Design
Humanóide
Inconciliável
Probabilidade
Ambigüidade
Hipérbole
Convescote
Aspecto
Ubiqüidade
Primogênito
Biltre
Recalcitrante
Concatenado
Sussurrar
Questiúncula
Ortodoxo
Miscigenação

Desconhece algum? Não vai encontrar o significado aqui. Faça como a galera da sexta série: procure.
E tem mais. Depois da entrevista, eles resolveram cantar "Cuitelinho", que diz tudo sobre poesia, afeto e a licença poética que faz da língua portuguesa a única a ter uma palavra como saudade.


quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Cantiga do Itororó

Sobre a indicação de leitura da coluna Toda Palavra publicada em 12.agosto:


Em versão mais moderna, esta é a letra com que é cantada pelas crianças brasileiras, enquanto formam uma roda ao redor de uma menina. Na terceira estrofe, o nome Maria/Mariazinha pode ser substituído pelo da criança que está no centro (ou fora) da roda. A última estrofe é cantada pela criança no centro da roda, substituindo o nome Chico pelo de qualquer outra criança escolhida para sair da roda e ficar na área central:


Eu fui no Itororó
Beber água e não achei
Encontrei bela morena
Que no Itororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada
Ó dona Maria
Ó Mariazinha
Entrará na roda
E ficará sozinha
Sozinha eu não fico
Nem hei de ficar
Porque tenho o Chico
Que será meu par

O escritor Veríssimo de Melo, de Natal/RN, registra em sua obra Folclore Infantil (Editora Itatiaia Ltda., Belo Horizonte/MG, volume 20 da Biblioteca de Estudos Brasileiros, cerca de 1981) diversas variantes da letra, recolhidas em vários pontos do Brasil. No Ceará, por exemplo, uma variante da letra usa o nome Itararé.

Veríssimo de Melo relaciona Itororó com o ribeirão homônimo, palco de grande batalha em 6/12/1868 entre as tropas do Brasil e do Paraguai. Para isso, ele se baseia numa versão recolhida em Santa Catarina, em que aparecem os nomes do famoso general Pedro Juan Caballero e do major Moreno, que controlava a artilharia, impedindo a passagem da ponte de Itororó, provocando muitas mortes e assim ensangüentando as águas do ribeirão - daí a alusão de não se achar água para beber. O último verso seria uma reminiscência da frase latina "Veni, vidi, vinci" dita por Júlio César ao Senado de Roma. Esta é a versão catarinense:


Eu fui lá no Tororó
Beber agua e não achei,
Ver Moreno e Caballero
Já fui, já vi, já cheguei

O autor registra ainda que Frei Pedro Sinzig (O Brasil Cantando, Ed. Vozes, Petrópolis/RJ, 1938) comenta ter o compositor Luiz Heitor se surpreendido em notar que o motivo musical conhecido da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, ser o mesmo desta canção, não sabendo dizer qual originou qual.

Para ler o original, clique aqui

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Maroni, o realista

De todo o imbroglio causado pelo acidente da TAM, poucas coisas falam mais do que a posição do empresário Oscar Maroni Filho, proprietário da casa noturna "de diversões masculinas" Bahamas (onde foi parar a consagrada e santificada zona, meu Deus?) e do prédio apontado como o provável causador de acidentes aéreos horrendos.
Com a palavra, Maroni: "Eu sou imoral, devasso, depravado, se você preferir, mas pago meus impostos e estou em situação legal".
Noves fora, há, claro, sombras demais na própria situação do prédio. Falhas no projeto urbanístico, dizem uns; situação irregular, apontam outros; risco aos pousos e decolagens em Congonhas, garantem terceiros.
O que fica, no entanto, é o realismo do empresário. Sim, ele vende erotismo. Não nega, aceita a pecha de depravado e qualquer outra, mas e daí? Quem são os sacrossantos que apenas após o acidente com o avião da TAM resolvem embargar a obra? Alguns anos com o prédio ali e nunca subprefeito algum apareceu, ninguém nunca ligou - ainda mais aparecer com equipe de tevê para dizer que vai lacrar o local.
Maroni faz e assume. E pronto. Ao contrário de muita gente que prefere faturar com a desgraça alheia.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Aprender, ensinar e aprender de novo

"Não dormi porque fiquei com dó”.

Esse foi o comentário de um aluno sobre palestra realizada havia poucos dias e surpreendeu menos pelo ineditismo e mais pela freqüência com que se ouvem frases desse tipo. Não é segredo que aumenta cada vez mais a distância entre as práticas escolares e a perspectiva e atitudes dos alunos. Mas afinal de contas, o que acontece? Onde está o ruído na comunicação entre professores e alunos? Há tantas teorias sobre o problema quanto propostas de solução, mas nenhuma parece dar conta de resolvê-lo.

Algumas pistas, no entanto, podem ajudar, como um caso ocorrido na Austrália: durante a aula, um professor admitiu não saber exatamente o que cangurus comem e se comprometeu a obter a informação para o dia seguinte. Um aluno disse não ser necessário esperar: ele poderia obtê-la “em instantes”. Provavelmente, acessaria a internet por meio do celular e além de um texto obteria um vídeo sobre o tema e, quem sabe, o compartilharia com outros colegas enviando o material em uma mensagem multimídia por correio eletrônico ou conexão sem fio.

Apesar disso, a escola continua sendo a escola. É onde o próprio aluno espera aprender algo útil, capaz de prepará-lo para o resto dos seus dias; é também local de interação social, onde ao lado de disciplinas básicas – língua, ciências naturais e matemática, ciências humanas – aprende-se a viver e a conviver com a diferença e a semelhança e a lidar com elas. É razoável imaginar que o problema não está em “o quê” (o conhecimento), mas no “como” se ensina.

Não é o caso de sair por aí queimando carteiras e lousas, distribuindo notebooks a cada aluno e liberando geral o uso do celular em sala de aula. Ferramentas – microcomputadores, lousas digitais e etecéteras - são apenas isso: ferramentas. Pesa, no entanto, a percepção sobre como lidar com crianças e adolescentes cuja carga de informação, não raro, é superior à do professor.

O que este último tem como vantagem e deve explorar é a habilidade no manejo do conhecimento, a competência para selecionar, organizar e dar sentido às informações. Na Europa, pesquisas mostram que a primeira “geração Net” chegou às universidades já há dez anos. Desde então, tudo mudou – inclusive a tal “geração Net”.

Mas algo permanece: estes alunos ainda têm vontade de aprender. Possuem objetivos. São pragmáticos, isto é, querem foco no aprendizado; desenvolvem formas distintas de pensar, de se comunicar e apreender informações. Buscam ambientes desafiadores, exigem retorno (o tal “feedback”, isto é, querem saber como estão e o que vão fazer com o conhecimento). São “multitarefa”, isto é, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo – e disso decorre também uma redução no tempo médio de atenção durante a aula.

O mesmo estudo detectou que o aluno, ao reclamar da aula “chata”, na verdade diz: “tenho muitas coisas a fazer e pouco tempo”. E não é exagero: a carga de informação e de opções disponíveis nunca foi tão grande e tende a aumentar. Essa geração Net representa hoje nada menos do que 7% de toda a população mundial.

O impacto no manejo da informação e do conhecimento, como é de se supor, é imenso e inclui outros obstáculos. Entre os já detectados estão um senso de imediatismo, a “lei do menor esforço” e a falta de aprofundamento nos assuntos discutidos. Não tanto por preguiça ou comodismo, mas estarem submetidos a um sistema que possui tais características.

É impossível desprezar isso e acreditar que as aulas ainda devem ser como há dez, vinte ou cem anos. Ninguém vai substituir imediatamente o ambiente na sala de aula e nem esta apenas é a solução. Mas pensar metodologias mais desafiadoras, estimular práticas de aprendizado em grupo e utilizar as informações e as habilidades do aluno pode ser um bom começo.

Clique aqui para ler as pesquisas citadas neste artigo

(Publicado originalmente no jornal Comércio do Jahu)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O apocalipse

Já sinto cheiro de enxofre, ouço o ranger dos dentes e os gritos de horror e desespero. O fim está próximo e, como profetizado - ops, quer dizer, comentado - em artigo anterior, quando quase fui enviado à Guantánamo por fotografar uma poltrona subversiva às margens do Rio Jaú, o apocalipse não virá pelas mãos dos mouros, de anjos munidos de foices ou similares.
O Juízo Final será perpetrado por turbas insuspeitas, a começar pelos fotógrafos amadores. Mais um teve questionado o ameaçador hábito de andar por aí com uma câmera: Keith MCammon, blogueiro e fotógrafo norte-americano, abordado por um policial no Condado de Arlington, Virgínia.
O motivo: segundo o policial, ele estava com a câmera numa área de "alta segurança", em frente ao prédio da Agência de Pesquisa de Projetos Avançados, do Departamento de Defesa americano.
Detalhe (incluído por ele na queixa feita no departamento da polícia local): o edifício não possui qualquer identificação.
Aí, realmente fica difícil.
Em tempo: ironia ou não, há um filme chamado "O suspeito da Rua Arlington", sobre um cara que se passa por engenheiro mas na verdade é o maior terrorista. Provavelmente o policial o havia visto na noite anterior.....

domingo, 15 de julho de 2007

Liberdade, ainda que à tardinha

Esse povinho desinformado, pequeno burguês e com seus pseudo-pruridos morais devia é passar um tempo na favela antes de sair por aí acusando policiais de chacina nos confrontos do Rio de Janeiro. Não disse o probo Paulo Salim Maluf que bandido bom é bandido morto? Pois então. E tem mais: por que a polícia precisa cumprir a lei se os bandidos não a cumprem? Ué! Não é guerra? Os caras não estão lá pra receber todo mundo à bala? Bala de volta, oras. Mulheres e crianças? Ninguém pediu pra eles ficarem na linha de frente atrapalhando o trabalho dos outros. Quem mandou nascer pobre? O mesmo Maluf já não falou também que professora não ganha mal, mas é mal casada? É isso aí. A culpa é mesmo dessa gentalha que escolheu nascer com um pé na merda e outro na cova.
Aliás, como praticamente sequer nossos dignos e lídimos parlamentares não cumprem a lei, qual é o motivo para todos - eu, você, a polícia, o flanelinha ilegal, o muambeiro das feiras livres, as madames das filas duplas - termos de fazê-lo? Não tem vaga? Sem problema: estacione na calçada mesmo. Combustível adulterado? Com certeza não o é mais do que nossas maleáveis consciências. Subfatura nota fiscal? Fique tranquilo. Se o presidente do Senado pode fazer o que bem entende com as dele, qual é o problema com suas míseras notinhas?
Então, é isso: vamos a uma imensa e catártica locupletação. A primeira medida pode ser a distribuição gratuita de armas a todo maior de 18 anos, acompanhada da expressa recomendação de atirar para matar ao menor sinal de perigo, incluindo-se aí brigas de trânsito, troco errado na padaria e discussão no parquinho para ver qual criança vai subir primeiro no balanço. Não deixe ninguém vivo porque isso pode lhe valer um processo por, no mínimo, lesão corporal grave. Morto não constitui advogado.
Depois, aboliremos a preferência de idosos, gestantes e portadores de deficiência nas filas em geral; médicos do INSS deverão receber demissão sumária e todos os que pedirem aposentadoria por invalidez serão atendidos - mesmo quem ainda nem entrou no mercado de trabalho.
Emissoras de tevê estarão totalmente desobrigadas de seguir qualquer norma de classificação indicativa. Aliás, mais do que isso: serão encorajadas a exibir cenas tórridas de sexo, quase ginecológicas, logo na programação matinal. Nossas crianças crescerão mais bem informadas e passarão logo dos quadros de calouros nos quais fingem ser adultos idiotizados para programas de namoro e "ficação" ao vivo e em cores. Campanhas de cigarro e bebidas serão automaticamente liberadas para qualquer veículo e horário, podendo inclusive utilizar menores em seus nada convincentes filmes publicitários.
Vamos nos tornar, finalmente, o país do futuro: uma terra livre, inzoneira, onde a verdadeira democracia se traduz por liberdade geral e irrestrita, uma espécie de anarquismo tupiniquim, temperado com pólvora e doce como a cana-de-açúcar que vai avançar sobre outras culturas, tão desnecessárias quanto menos rentáveis nesse Brasil varonil.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Bloqueio mental

No começo era um tal de Verbo. Pelo menos, é o que dizem. Mas agora, assim, meio que no final, rola mesmo são uns verbos que nos fazem de bobos. Tipo os textos da campanha da Oi por um tal "bloqueio não" dos celulares pelas operadoras.
Há que se tirar o chapéu: tudo tem cara de uma extensa e bem intencionada campanha cívica (rufem os tambores!) pelo desbloqueio de aparelhos, mas é um tremendo blá-blá-blá da Oi. Pior do que os filmes comerciais são os "depoimentos" de artistas e descolados, falando do bloqueio como se houvessem encontrado o fim do arco-íris. Basicamente, ridículo. Feito o chato do Mion abaixo.
Bom mesmo é ter como princípios de vida as frases desse cara aqui, ó.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mais do mesmo de novo outra vez

Dia de visita. Estamos na Francal, versão 2007, e tudo o que consigo ver é a mesma versão de sempre de outros tantos anos anteriores. Feira de "business" é boa pra quem quer business. De resto, as mesmas caras e pernas nas entradas dos estandes, os 'isspéérrrtos' jogando 'street' na quadra improvisada e, claro, a mesma profusão de econono-inglês: fazer um "approach" ou "alinhar as percepções" (esse sim, um misto de borracharia com pai-de-santo). O prêmio vai para o colega que intimou ao microfone: "aspirante Fulana", favor comparecer ao café. Aspirante? Ao que aspira uma aspirante? A poder chamar alguém algum dia de "aspirante"?
No mesmo estande um cartazete avisava: "Cadastramos prepostos. Necessária muita resistência física e mental" (!!!). Imagino que o candidato será incumbido de abrir o mercado afegão a tapas para então inundá-lo com sandálias de borracha ou, no mínimo, montará uma loja flutuante no delta do Nilo.
Há boas idéias, embora raras. Uma delas é a marca 1001 Retalhos, cujo trabalho com bolsas consegue mostrar um Brasil mais interessantes. Todas as criações possuem temas regionais, como São Paulo, Árvores do Brasil e os modelos em patchwork com representações folclóricas (banda de pífaros, Boi Bumbá, etc. Uma das sócias, Ana Paula, diz que a idéia é justamente mostrar o "bom Brasil", isto é, a cultura longe apenas da inzonice, da malemolência, do apelo sexualizado. O trabalho ficou muito legal e pode ser visto aqui.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Como ser enganado e ainda pagar por isso

Eles estão chegando. Na verdade, estão entre nós há algum tempo, mas a coisa toda parece ter degringolado de vez.
Não, não são alienígenas. Esses deixaram de causar medo desde a explosão dos implantes de silicone e das plásticas radicais. Para quem sobrevive a encontrar mulheres de cavanhaque - tamanho o repuxo -, ETs são fichinha.
A "questã" são os manuais para praticamente tudo, que já são uma ameaça tão séria quanto pouco levada a sério. Percebeu? Semanalmente são dezenas, talvez centenas de mensagens em cada caixa postal: "Torne-se um líder agora!", exige um deles; "Sua vida como você sempre quis!", vaticina outro (pausa: deveria cair de joelhos e orar em direção a Meca por alguém ser tão solícito a ponto de não só saber qual vida eu gostaria, mas de me ensinar a obtê-la! Graças, hosana!); "Seja seu próprio patrão", suplica ainda outro, provavelmente isento de qualquer sarcasmo, ironia ou pura sacanagem por dizer isso no Brasil, onde empregos pululam nas esquinas e vagas milionárias surgem todos os dias.
Acabaremos num grande manual, sem dúvida. Daqui a pouco lançam "Como entender manuais: guia prático em 12 lições". Aliás, números são cabalísticos. Todos ensinam tudo em 7 ou 12 passos, infalivelmente. Ao menos para quem os escreve, pelo menos, que enche as burras com o dindin dos crédulos, quer dizer, dos futuros líderes, visionários e profetas. Duvida? O termo "em 7 lições" retornou em uma pesquisa básica 279 endereços no Google, que subiram para 1.850 com "em 12 lições". Muito bem. Estamos devagar, precisamos mais de 12 passos do que 7. Vou lançar um manual sobre isso: "Como fazer em 7 passos o que os outros conseguem em 12".
Tudo é muito explicadinho, não? "Quer emagrecer? Me pergunte como". Aí, você pergunta e pimba: além do manual, há que comprar mais ou menos 94 quilos de shakes com sabores ótimos como artemísia, feno, cedro e outros seres encantados do reino vegetal.
E as dietas? "Barriga tanquinho com apenas 5 minutos por dia" (alguém devia prender o autor e toda a equipe de reportagem por esse tipo de coisa); "Dieta da Lua: emagreci 12 quilos em três meses" (e foi ver a lua cheia em algum sanatório); "Emagreça sem esforço" (claro, isso é fácil. Tento toda semana ficar milionário sem esforço. Ainda não consegui, mas eu chego lá).
Enfim.
Basta aguardar. Em breve, o incrível "Emagreça, seja seu patrão, torne-se um líder e cuide da sua vida em apenas 6 lições sem sair casa com apenas 5 minutos por dia". Nas melhores livrarias e bancas do universo.

sábado, 7 de julho de 2007

O ataque das poltronas subversivas

Eis a foto que poderia mudar a história de toda uma cidade, quem sabe da própria humanidade. Tremei, poderes constituídos! Ajoelhem-se todos os que têm culpa no cartório, no clube de tranca ou no Serasa! Fotógrafos amadores de todo o mundo espalharão o terror, a discórdia e o ranger de dentes por onde passarem.
É chegada a hora! O mundo vai acabar - e, pasmem, será por uma lente fotográfica.
Até que não seria totalmente ruim....
Leia o artigo completo aqui.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Desmanche virtual

A decantada flexibilidade e inovação no trato da informação advindas do aumento exponencial de novas mídias - especialmente em formato digital - trouxe mais dúvidas do que certezas. Pelo menos, é o que surge em análises recentes, mais amenas após a overdose de expectativas quanto a investimento, retorno financeiro e impacto na comunicação.
Que o mundo encolheu com a internet, não há dúvida. Tudo tende a ser aqui e agora, ao mesmo tempo. Nada de novo. Mas as perspectivas quanto ao que pode dar certo, o que já deu e o que ainda pode vir a ser são um tanto quanto obscuras.
Vide as análises do State of News Media, relatório anual produzido nos EUA sobre o tema. Algumas constatações são que o ritmo do crescimento de sites de informação decresceu; o tão aguardado retorno financeiro com publicidade online mudou de foco, de anúncios do tipo banners para links patrocinados e buscas específicas - como "páginas amarelas" na internet; e o jornalismo tradicional divide espaço com blogs.
É cedo para dizer que é cedo, pois a constância das mudanças tornou-se a única certeza. Difícil estipular perspectivas temporais, do tipo "daqui a um ano será a vez deste ou daquele modo de interagir na internet". Não há mais permanência. O que existe é uma incapacidade crescente de lidar com algo tão volúvel.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Sobre a legalização do aborto no Brasil

Estamos trabalhando em sala de aula com os alunos do 3º ano de Ensino Médio o tema da legalização do aborto no Brasil. Muito se tem discutido por aqui ou mesmo em outros países, o que aumenta a chance de o assunto estar na mira dos próximos vestibulares.
Além do material em sala de aula, seguem abaixo alguns links por meio dos quais é possível encontrar textos sobre a questão:

Em Portugal - artigo de universitário do King´s College sobre a legalização do aborto naquele país.

Carta na IstoÉ - texto da redatora-chefe da IstoÉ Gente, Gisele Vitória, sobre o tema.

Opinião - entrevista com o juiz paulista Francisco Bruno

Notícia - sobre projeto para legalização do aborto no Brasil

Artigo contra a descriminalização do aborto

México - nota no sítio Último Segundo sobre a descriminalização do aborto no México, com link para mais informações no site da BBC

Opiniões diversas - interessante o debate promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com artigos de dois médicos da Faculdade de Medicina, nos quais eles expõem pontos de vista diferentes. Vale a pena ler para entender e comparar os argumentos.

Não ao aborto - sítio na internet do Movimento em Defesa da Vida

Pesquisa - material acadêmico com pesquisa entre mulheres no Rio Grande do Sul sobre o tema

domingo, 29 de abril de 2007

Publicidade abusiva

Quarta-feira comentei em classe o novo filme publicitário do Palio 1.8 veiculado na tevê brasileira. Um absurdo: três carros explicitamente participando de um racha, o conceito de performance unicamente ligado à velocidade. Isso num país no qual 17,1% das mortes entre jovens são causadas por acidentes de trânsito.
Na sexta, uma boa notícia: o comercial foi alvo de duas ações judiciais e o Conar determinou a suspensão da veiculação. Algumas coisas ainda funcionam por aqui.

sábado, 28 de abril de 2007

Asfalto, neuroses e um filme de primeira

A semana não poderia ter terminado melhor. Sexta à tarde e não fosse o comentário da galera ainda no carro, indo para casa ("ih, olha o cartaz da Miss Sunshine"), teria passado batido. Mas valeu e deu para encontar recém-lançado em DVD "A Pequena Miss Sunshine". O filme é um primor.
Normalmente, quase todo road-movie trata da estrada para os sonhos dos personagens, a procura por si mesmo, etc, etc, etc. "Miss Sunshine", não. Em vez disso, o filme - dos novatos em cinema Jonathan Dayton e Valerie Faris - mostra mesmo é uma família desencontrada que, na estrada, ao buscar um sonho, precisa mesmo é encarar seus próprios pesadelos. Incluem-se aí o pai, um fracassado vendedor de palestras e um quase-livro de auto-ajuda; um adolescente depressivo, revoltado e mudo por opção (tirando mudo, que adolescente não é??), um avô doidão viciado em heroína e expulso por isso do asilo, a mãe e o tio suicida. Todos numa mesma Kombi cuja embreagem sequer funciona para levar a desconcertante Olive ao concurso de "Pequena Miss Sunshine", na Califórnia.
E mais não conto.
Assistam.
Para ler mais sobre:
Liberati
Crítica no Yahoo Filmes
Resenha do Merten, no Estadão

terça-feira, 24 de abril de 2007

Muda ou não muda?

Sobre as mudanças previstas na reforma ortográfica, o artigo abaixo merece uma leitura. Nosso amado e inédito presidente Lula já aderiu, posto que pediu a repórteres outro dia que ficassem "trankilis", assim, sem trema mesmo. Vamos todos, então...


Vão seqüestrar o trema!

Gabriel Perissé

Quando o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 entrar em vigor, talvez muitos brasileiros mal percebam as alterações. Eu, no entanto, já estou pregustando as amargas mudanças, por menores que sejam.

Está previsto, por exemplo, que o trema desapareça. O trema, que já não era visto nas páginas da Folha de S. Paulo e da revista IstoÉ, sumirá do nosso idioma para todo o sempre. Vou sentir muita falta. Jamais me acostumarei (tremo só em pensar) a sequestros sem trema, consequências sem trema, sanguíneo sem trema.

Os professores de língua portuguesa que se irritavam quando liam a Folha e IstoÉ, ou punham com caneta vermelha os tremas esquecidos nas redações de seus alunos, terão agora que, humildemente, reconhecer a verdade. Não se tratava de esquecimento, no caso dos alunos, ou de arrogância, no caso daquele jornal e daquela revista. Era pura premonição!

Todos tranquilos

Outra mudança: paroxítonas terminadas em "o" duplo perderão o acento circunflexo. "Abençôo" será "abençoo", "enjôo" será um despojado "enjoo" e os "vôos", que já estavam com problemas há meses nos aeroportos brasileiros, terão mais uma perda: o "chapeuzinho". Os "voos" sem circunflexo me deixam perplexo.

O acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas também será suprimido. "Assembléia", "idéia", "epopéia" vão ser "assembleia", "ideia" e "epopeia". Que cefaléia! "Jibóia" e "tramóia" serão inofensivas "jiboia" e "tramoia".

Se eu pudesse propor alguma mudança relativa à acentuação, mandaria adotar a simplicidade do inglês — não há acentos, ninguém perde tempo com isso. Aliás, a rigor, os acentos já deixaram de existir para milhares de pessoas, sobretudo quando escrevem na internet. Nada de til, acento agudo, acento grave, estão todos tranqüilos, ou melhor, tranquilos. Para esses escritores revolucionários, o acordo informal já foi feito, blz!

Apenas uma idiossincrasia

Aceitarei de bom grado tudo, menos a queda do trema. Os "linguistas" sem trema me fazem pensar que a língua será "linga". Os "bilingues" e "trilingues" estarão mais próximos do estilingue. Comer "linguiça" vai ser um enguiço! Uma nota de "cinquenta reais", eu não "aguentarei"! E o "pinguim", coitado. E a "eloquência" empobrecida...

Bem sei que isso é idiossincrasia. Nada que o tempo não possa curar. Na pior das hipóteses, os amantes do trema não viverão para sempre. Daqui a duzentos anos todos vão achar estranho que houvesse gente usando esses dois pontinhos em cima da letra "u".


(Fonte: Observatório da Imprensa, 17/04/2007 – www.observatoriodaimprensa.com.br)

Sobre variações linguísticas, texto, vocabulário e estilo

Muito bom.
Para quem conhece pouco o Ubaldo, recomendo a leitura de "Viva o Povo Brasileiro" (algum maluco colocou o romance - não sei se na íntegra - na internet!), "O Sorriso do Lagarto" e especialmente "A Casa dos Budas Ditosos", este sobre a luxúria, que integra uma série excelente sobre os sete pecados capitais.
O artigo abaixo é um dos muitos nos quais ele fala sobre o uso da língua portuguesa. Se alguém encontrar, recomendo um texto no qual Ubaldo cita a coragem de um então aluno seu que declarou haver o verbo "fôr" (entre o ser e o ir....) e o conjugou em sala, instado a tanto. Incrível...

A decadentização da língua

João Ubaldo Ribeiro


Claro, todo mundo já ouviu dizer que línguas são como seres vivos, que mudam com o tempo e até morrem. É verdade e, se não fosse assim, alinda estaríamos falando latim. Nada, portanto, contra as mudanças na língua, contanto que sejam ditadas por uma razão mais ou menos respeitável, até mesmo pela famosa lei do menor esforço, quando não redunde em empobrecimento da capacidade de expressão. Mas acho que está havendo um certo exagero e, daqui a pouco, estaremos falando um dialeto primitivo de umas 300 palavras par pessoas cultas e umas 25 para a maioria.

Começa-se, é claro, com as chamadas “palavras-ônibus”. Servem para tudo e, em português, as mais comuns atualmente são “maravilha” e seus derivados, “super”, “parada” e “valeu”, que, com alguns acréscimos, podem constituir toda uma conversação.

- Eu super me dei bem naquela parada – diz o primeiro.

- Ah, aquilo sempre foi uma maravilha – responde o segundo.

- Ah, supervaleu! – despede-se o primeiro.

O “cujo”, coitado, restinho do genitivo que ainda sobrava por aqui, passou da categoria de pedante, entrou para a de pernóstico e, em breve, será arcaísmo. Ninguém mais diz “cujo”, só diz “que”. “A moça que eu vi o pai ontem” é o certo hoje em dia e quem disser “a moça cujo pai eu vi” corre o risco de não ser entendido. Sei que vai haver entre vocês quem não acredite e ou até compreende, embora esteja contatando a verdade. Outro dia eu disse um “cujo” numa entrevista e a entrevistadora me deu a impressão de que só entendeu depois de pensar em alguns laboriosos segundos.

Há também um movimento que cada vez aumenta mais, para abolir a preposição “a” no uso corrente. Ou seja, prestando atenção, você vai ouvir na televisão alguém dizendo “daqui dois dias” ou, bem pior, “igual eu” . Em compensação “neste ano” “nesta semana” por exemplo, que nunca foram correntes para dizer, “este ano” ou “esta semana” , agora são a única maneira certa de falar. “Neste ano, tu vai fazer igual eu, procurar uma parada diferente no carnaval, não é?

Os verbos vêm sofrendo bastante também. Por exemplo, poucos entre nós, tem visto alguma coisa recentemente. A maior parte de nós hoje visualiza, principalmente quando enxerga. Ver a gente volta e meia ainda vê, mas ninguém enxerga mais, só visualiza. Até a sinal a gente não prestas mais atenção, a gente nota a sinalização. Ninguém chama a atenção para nada, sinaliza e nós vemos a sinalização, não o sinal. O verbo “pegar”, não sei bem por quê ( tem acento aí nessa quê, garanto a vocês – de vez em quando me comem um circunflexo), virou abundante e o certo, que era errado, é cada vez mais “pego” e outro dia um motorista de táxi se embasbacou porque eu sou da Academia e disse “pegado” a ele. E novamente garanto que não estou mentindo: já ouvi “eu tinha falo”, em vez de “falado”, o que talvez não cole porque fica chato tanto para homem quanto para mulher dizer isso, considerando que “falo” é substantivo e tem muito pouco a ver com a fala.

Os timbres também são amalucados. A droga “ecstasy” é para ser pronunciada com “e” aberto, pelo menos enquanto não for naturalizada, mas aqui virou uma maneira exótica de pronunciar “êxtase”. Isso, aliás, é comum, na incorporação de palavras dce nossa língua-mãe, ou seja, o inglês. Quando o “volley” (“vóli”, às vezes quase “válhi”) se naturalizou, virou “vôlei”. Até aí, tudo bem, naturalização é naturalização, mas por que “doping”, além de receber frequentemente dois pp, é “dópingue”? (Aliás, isto me traz à cabeça algo que tem pouco a ver com o que escrevo agora: por que a gente se irrita tanto quando inglês ou americano escreve Brasil com z? Em inglês é com z, assim como América aqui é com acento, França é com cedilha e “a” no fim e Alemanha é bastante diferente de Deutschland. Deve ser nosso combativo nacionalismo de araque). Outra mudança de timbre que me chateia é a de “obsoleto”. Não é conhecimento secrêto que o corrêto – e não é preciso ser discrêto quanto a isso – é “obsoleto”, mas escuto gritos de “olha o baiano” sempre que pronuncio certo. Tenho vontade de acertar um “dirêto” no cara.

“Loira”, que era variante, agora está ficando padrão. Ninguém, que eu tenha escutado, diz que um sujeito é “loiro” e eu acho que até pega mal em certas mesas de boteco, mas só se escreve “loira” agora. Outras palavras não estão tendo formas destronadas, estão sendo expulsas da língua, como os bons e velhos verbos “pôr” e “botar”. Acho que até em Itaparica galinha já está colocando ovo, em vez de botar. Colocando, imaginou eu, é mais elegante. Da mesma forma, “penalizar”, um verbo antes tão expressivo, botou para fora “punir” (não sem uma certa relação com o que acontece na sociedade) e “prejudicar”. Ninguém prejudica mais, só penaliza, que tem a vantagem adicional de terminar em “izar”.

A linguagem informática também traz suas pesadas contribuições. Por que diabo “salvar”, que não quer dizer nem “guardar”, nem “gravar” nem nenhum sinônimo destes, é usado, quando temos palavras perfeitamente adequadas? Por que “malévolo”, “mal-intencionado” ou “maldoso” é “malicioso”? Por que “corporate”, até fora da linguagem informática, é “corporativo”? Por que um determinado sistema não “suporta” outro, como se se detestassem?

Finalmente, adeus para “existir” e “haver”. Agora só se diz “você tem”. “Você tem uma área chamada Amazônia. Muito bem, que é que você tem lá? Você tem uma floresta que precisa ser preservada. E aí você tem que caminhos?”. Eu não sei, só sei que nós tínhamos uma língua própria antigamente.

(Publicado originalmente em O Estado de São Paulo, 22.04.2007, página D3)

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Pit stop

Final do dia, começo da madrugada. 1h09. A vida online cresce e não por conta do horário. Esse, aliás, é um dos truques: não há mais horários. Tanto faz às 8h23, 16h31 ou 2h15. Tudo é sempre agora. Este blog não termina quando eu o deixo, desligo o micro e morro por algumas horas, boiando em sonhos que nem sei se são meus. Há o monitoramento, visitas, comentários. Não o fazem permanecer?
Aos poucos, nada passa a depender de nada, já que tudo está: conectado, reagindo, registrando, respondendo (e-mails com respostas automática não o fazem a qualquer momento?), enviando, suspeitando, enviando e recebendo.
Bibliotecas com horário de funcionamento? Não mais. Apostas na megasena no meio da insônia? Perfeito. Flores? Já é. Acabo de encontrar um site com resumos e resenhas. Dá até para ganhar um troco oferecendo o que muitos não conseguem sequer de graça.
Aos poucos, tornamo-nos uma gigantesca conveniência 24 horas.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Escreveu, não leu, mas vendeu....

Curioso, mas não incomum. Bastante recorrente, aliás, em tempos de muito business e pouca leitura.


O vendedor Nirso!!! CENÇASSIONAL!!!

O gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores:
"Seo Gomis o criente de Belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa, Abrasso, Nirso."

Aproximadamente uma hora depois, recebeu outro:"Seo Gomis, os relatório di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo que manda treis miu pessa. Amanhã tô xegando. Abrasso, Nirso."

No dia seguinte:

"Seo Gomis, num xeguei pucausa de que vendi maiz deis miu em Beraba. To indo pra Brazilha. Abrasso, Nirso."

No outro:

"Seo Gomis, Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinoplis e de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora. Abrasso, Nirso".

E assim foi o mês inteiro.O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente, um homem muito preocupado com o Desenvolvimento da empresa e com a cultura dos funcionários, escutou atentamente o gerente e disse:

- Deixa comigo, que eu tomarei asprovidências necessárias.

E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e fixou no mural da empresa,juntamente com as mensagens de fax do vendedor:

"A parti de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, mod vendê maiz.

Acinado,

U Prizidenti."

Quem??

"Porque, tipo assim, você fica mais você".
Essa foi, tipo assim, a resposta de uma, tipo assim, modelo-candidata-miss à pergunta sobre qual o motivo que a levou a optar por "intervenções estéticas" (cirurgias plásticas, implantes e congêneres). No caso, um silicone básico nos seios.
A moça não poderia estar mais coberta de razão.
Afinal, em tempos nos quais os 15 minutos de fama de Andy Wharol tornaram-se até um exagero, "ser mais você" talvez signifique isso: tornar-se o idealizado em vez de contentar-se com o estabelecido.
Sou mais eu quando mais adequado ao que busco ou esperam de mim; sou mais eu quanto mais formatado, quanto mais menos eu.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Português para reuniões

Se o mundo vai acabar soterrado em papel, já não sei mais. Talvez um sumiço geral sob montanhas de panfletos anunciando descontos especiais em medicamentos idem, outros tantos garantindo "100% de satisfação" nos trabalho de alguma vidente qualquer. Enfim.
Só há uma certeza: antes de isso acontecer, há um exército de infelizes diariamente trancafiados em reuniões intermináveis sobre nada, horas escoando lá fora enquanto o mundinho do ar-condicionado define os rumos da civilização. Uma espécie de purgatório.
Pois eis a solução para, ao mesmo tempo em que se suporta o insuportável, ganhar alguns pontinhos com a chefia fazendo observações supostamente inteligentes sobre nada. Claro, sempre.
A tabela abaixo chegou por e-mail. Um curso rápido de "Technical Embromation". Perfeito. E mostra como um texto aparentemente sem erros pode, também, dizer...nada.
Combine as colunas sequencialmente (1-2-3-4) variando a posição vertical à vontade. E veja o resultado.


Coluna 1

Coluna 2

Coluna 3

Coluna 4

Caros colegas,

a execução deste projeto

nos obriga à análise

das nossas opções de desenvolvimento futuro.

Por outro lado,

a complexidade dos estudos efetuados

cumpre um papel essencial na formulação

das nossas metas financeiras e administrativas.

Não podemos esquecer que

a atual estrutura de organização

auxilia a preparação e a estruturação

das atitudes e das atribuições da diretoria.

Do mesmo modo,

o novo modelo estrutural aqui preconizado

contribui para a correta determinação

das novas proposições.

A prática mostra que

o desenvolvimento de formas distintas de atuação

assume importantes posições na definição

das opções básicas para o sucesso do programa.

Nunca é demais insistir que

a constante divulgação das informações

facilita a definição

do nosso sistema de formação de quadros.

A experiência mostra que

a consolidação das estruturas

prejudica a percepção da importância

das condições apropriadas para os negócios.

É fundamental ressaltar que

a análise dos diversos resultados

oferece uma boa oportunidade de verificação

dos índices pretendidos.

O incentivo ao avanço tecnológico, assim como

o início do programa de formação de atitudes

acarreta um processo de reformulação

das formas de ação.

Assim mesmo,

a expansão de nossa atividade

exige precisão e definição

dos conceitos de participação geral

segunda-feira, 2 de abril de 2007

quinta-feira, 22 de março de 2007

Do asfalto à fibra ótica

Não sei ao certo quantos éramos em 1994. Sítios desenvolvidos com tecnologia Flash e outras quinquilharias digitais, mesmo se existissem, provavelmente não rodariam nas conexões discadas a 56 kbps. Ou, se rodassem, demorariam um fim de semana inteiro para isso. Salas de bate-papo, e-mail e alguns portais eram praticamente obrigatórios. Mas havia algo mais: um caráter meramente anárquico, desorganizado mesmo. Uns experimentavam, outros acabavam perdidos, havia ainda quem visse ali oportunidades jamais concretizadas.
Em 1999, quando começou a se desenhar a explosão da internet, o Brasil contava com pouco mais de 2,5 milhões de pessoas conectadas. Três anos depois eram aproximadamente 7,7 milhões. Em 2007, o número de internautas brasileiros – eventuais e usuários constantes – poderá atingir 30 milhões de pessoas, dos quais metade já têm acesso pessoal (em casa ou no trabalho) à rede mundial. Somos o 11º país em número de usuários. Temos 18,3 milhões de computadores pessoais. Cinco milhões de brasileiros já utilizam acesso banda-larga e a média de navegação no País é de 14 horas e meia por mês.
Mesmo com tudo isso, foi inevitável lembrar da internet em 1994 em apenas uma hora de estrada rumo a uma universidade próxima. Por mera questão de traçado geográfico o caminho mais curto cruza, na maior parte da viagem, áreas rurais e pequenas cidades. Acostamento, quando surge, é precário e coberto por grama; a sinalização é apenas suficiente e o asfalto deixa a desejar.
Mas há sombra em boa parte da estrada. Árvores, grandes, algumas floridas; pequenas entradas para sítios idem, famílias em trajetos curtos à beira da estrada, vendedores disso e daquilo. Claro, inexiste a segurança pasteurizada e os postos com iluminação feérica das rodovias duplicadas, mas também não há pedágios, cãezinhos engaiolados e piscinas à venda, excessos visuais e econômicos.
Em “Zen e Arte da Manutenção de Motocicletas”, ao falar sobre a relação entre compreensão de mundo e temas como tecnologia, relações humanas, o autor diz que a maioria das pessoas não se arrisca a subir montanhas e, quando o fazem, descobrem que há vários caminhos.
O raciocínio vale para estradas e para a internet. Conexões banda-larga, acostamentos de sonho e várias pistas à disposição garantem, sem dúvida, conforto e segurança. Mas tanto conforto como segurança transformam-se em comodismo e inércia se excessivos e costumeiros. Ambos são meras ferramentas e não o serviço ou o trajeto em si.
Conexões melhores e computadores mais potentes têm servido, em boa parte, apenas para provedores e mascates eletrônicos venderem mais e mais caro seus produtos e serviços. Aos poucos, perdem visibilidade iniciativas independentes e inovadoras, portais desvinculados de interesses econômicos e mantidos apenas por quem acredita no tráfego livre de informações e na comunicação em escala mundial.
Estradas duplicadas mantidas por tarifas abusivas de pedágio, se oferecem alguns serviços supostamente sob a responsabilidade do Estado – afinal, paga-se IPVA – sacrificam a possibilidade do encontro com outras culturas em nome da velocidade e da pressa em chegar. A distância de um ponto a outro não ficou menor, apenas mais pobre. Em vez do vendedor de queijo, laranja ou pamonha, balcões refrigerados; em vez de sombra, faixas avisando que ou você obedece, ou vai ser dar mal, muito mal; em vez de paisagens diversas, a monotonia dos outdoors.
No entanto, nem tudo é ruim ou manipulado. Na internet, por exemplo, há Leminski, lunático camuflado de curitibano: “essa idéia/ninguém me tira/matéria é mentira”. Há consolo, pois, estradas não passam, ficam, mas saber como e por quais enveredar pode ser maior do que qualquer mentira.

(Publicado no jornal Comércio do Jahu em 22.03.2007)

Para não esquecer

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
(Fernando Pessoa, 2-8-1933)

segunda-feira, 19 de março de 2007

Poesia, consumo e identidade

A coisa somos nós. Bem o sabia Drummond, apesar de desconfiar que mesmo ele pouco se aventurasse a considerar o ponto a que chegamos.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Velho Guerreiro

Comunicação em rede, pós-modernismo e a "comtemporaneidade complexa como tangenciamento do ser" uma ova!
Só quem viu Chacrinha e Legião Urbana - juntos - consegue entender - um pouquito - essa salada maluca da televisão brasileira que perdeu o sabor há algum tempo e deu lugar a novelinhas de época, programetes regados a bonitinhas e um sem fim de cabelinhos com gel. Urgh!.

Trabalho, ócio, Baudrillard e a Microsoft

Entre as idéias do pensador Jean Baudrillard - morto semana passada - a de simulacro talvez seja a mais flexível de todas. A questão de haver um "duplo" do que se considera realidade e a incapacidade de perceber a diferença entre ela e a ilusão dos meios de comunicação de massa - que propagam o simulacro, uma realidade cada vez mais real, por assim dizer - expande-se continuamente. Não há fronteira à vista para o simulacro, já que ele é inerente ao próprio meio, isto é, novas estratégias e possibilidades abrem novas formas de simulacro.
É assim com a questão da interface entre diversão e trabalho. Ainda que Domenico de Masi, em seu "Ócio Criativo", desenvolva o conceito de trabalho não mais como obrigação e penitência, mas no âmbito criador e lúdico, difícil não perceber que a amplitude das práticas de consumo nos leva a encarar cada vez mais com naturalidade o trabalho como algo indissociável do lazer.
Aqui é possível assistir a vídeos da Microsoft que abordam a questão da mobilidade na tecnologia - isto é, trabalho em qualquer situação por meio do acesso à internet (trabalho em rede). Veja que não há mais qualquer vestígio de o acesso servir para conexões interpessoais ou diversão. É apenas o "trabalho em qualquler lugar".
Neste link está um texto pessoal publicado em primeiro de março no jornal Comércio do Jahu sobre o mesmo tema. Colaborações são bem vindas. E-mail no topo da página.