domingo, 15 de julho de 2007

Liberdade, ainda que à tardinha

Esse povinho desinformado, pequeno burguês e com seus pseudo-pruridos morais devia é passar um tempo na favela antes de sair por aí acusando policiais de chacina nos confrontos do Rio de Janeiro. Não disse o probo Paulo Salim Maluf que bandido bom é bandido morto? Pois então. E tem mais: por que a polícia precisa cumprir a lei se os bandidos não a cumprem? Ué! Não é guerra? Os caras não estão lá pra receber todo mundo à bala? Bala de volta, oras. Mulheres e crianças? Ninguém pediu pra eles ficarem na linha de frente atrapalhando o trabalho dos outros. Quem mandou nascer pobre? O mesmo Maluf já não falou também que professora não ganha mal, mas é mal casada? É isso aí. A culpa é mesmo dessa gentalha que escolheu nascer com um pé na merda e outro na cova.
Aliás, como praticamente sequer nossos dignos e lídimos parlamentares não cumprem a lei, qual é o motivo para todos - eu, você, a polícia, o flanelinha ilegal, o muambeiro das feiras livres, as madames das filas duplas - termos de fazê-lo? Não tem vaga? Sem problema: estacione na calçada mesmo. Combustível adulterado? Com certeza não o é mais do que nossas maleáveis consciências. Subfatura nota fiscal? Fique tranquilo. Se o presidente do Senado pode fazer o que bem entende com as dele, qual é o problema com suas míseras notinhas?
Então, é isso: vamos a uma imensa e catártica locupletação. A primeira medida pode ser a distribuição gratuita de armas a todo maior de 18 anos, acompanhada da expressa recomendação de atirar para matar ao menor sinal de perigo, incluindo-se aí brigas de trânsito, troco errado na padaria e discussão no parquinho para ver qual criança vai subir primeiro no balanço. Não deixe ninguém vivo porque isso pode lhe valer um processo por, no mínimo, lesão corporal grave. Morto não constitui advogado.
Depois, aboliremos a preferência de idosos, gestantes e portadores de deficiência nas filas em geral; médicos do INSS deverão receber demissão sumária e todos os que pedirem aposentadoria por invalidez serão atendidos - mesmo quem ainda nem entrou no mercado de trabalho.
Emissoras de tevê estarão totalmente desobrigadas de seguir qualquer norma de classificação indicativa. Aliás, mais do que isso: serão encorajadas a exibir cenas tórridas de sexo, quase ginecológicas, logo na programação matinal. Nossas crianças crescerão mais bem informadas e passarão logo dos quadros de calouros nos quais fingem ser adultos idiotizados para programas de namoro e "ficação" ao vivo e em cores. Campanhas de cigarro e bebidas serão automaticamente liberadas para qualquer veículo e horário, podendo inclusive utilizar menores em seus nada convincentes filmes publicitários.
Vamos nos tornar, finalmente, o país do futuro: uma terra livre, inzoneira, onde a verdadeira democracia se traduz por liberdade geral e irrestrita, uma espécie de anarquismo tupiniquim, temperado com pólvora e doce como a cana-de-açúcar que vai avançar sobre outras culturas, tão desnecessárias quanto menos rentáveis nesse Brasil varonil.

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