quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Folha de SP em edição digital

A Folha de SP lançou há pouco sua edição digital do jornal impresso. Na íntegra. Um passo natural para quem já disponibiliza praticamente todo o conteúdo online faz algum tempo, mas com outro significado. Agora, o jornal como ele é entregue ao assinante pode ser lido e acessado página a página. Semelhante ao que já fazia o Estadão, mas com ferramentas melhores, como a busca por conteúdo específico, opções de impressão e envio e marcação de páginas favoritas.

Muito se debate sobre a ainda incerta relação entre mídia impressa e internet. Os números impressionam: este ano, o Ibope Nielsen Online apontou em julho um aumento de 2,5 milhões de novos internautas em relação ao mês anterior. No mesmo mês (julho) de 2008, brasileiros na internet eram 41,5 milhões - sem contar acessos públicos, como bibliotecas, lan houses e telecentros.

Em áreas urbanas, 44% por cento da população está conectada à internet. Entre as empresas nacionais, 97% têm conexão na rede. O acesso residencial à internet é de 27,5 milhões de pessoas, das quais 38% o fazem diariamente. No total, 87% dos brasileiros estão semanalmente conectados à rede.

Claro, há desafios. A visualização da edição digital da Folha ainda é ruim. Não há fidelidade na leitura, existe uma certa distorção no monitor. Os recursos de navegação são melhores do que os do Estadão, concorrente direto, mas o principal - a leitura - é prejudicada.

Nada que não se resolva. E tudo a favor, pois apenas quem não anda por aí ou não conversa com estudantes e profissionais que estão entrando agora no mercado deixa de perceber o óbvio - aos poucos, gostando ou não, mídias digitais estão substituindo meios impressos. São mais baratas e podem ser acessadas de qualquer lugar, inclusive do celular. Que, aliás, verá um crescimento acelerado dos recursos de tevê digital em 2010, ano da Copa do Mundo.

Há cerca de três anos, em um seminário, vi uma uma pesquisa inglesa apontando 2021 como o ano em que os jornais iriam desaparecer. O conteúdo, a análise, a boa informação, estes jamais serão deixados de lado. Mas o papel, vai. Se vai fazer falta ou não, é outra história. Mas o impacto do acesso à internet é brutal, com um volume inédito de informação e opinião circulando livremente. Mesmo que senadores brasileiros ainda insistam em discutir o inevitável - a liberdade de expressão que isso traz.

Qualquer nota

Começo de madrugada e o micro ainda ligado. Um meio termo entre as sobras do dia, o por fazer e o hábito, adquirido nas redações, do trabalho noturno. Uma conferida rápida em alguns jornais e paro na coluna política de uma edição local de Jaú. No cardápio, algumas notas a respeito de bastidores na Câmara, idas e vindas a Brasília para o eterno pedir de verbas, desafetos trocando figurinhas, partidos que ora estão com uns, ora com outros, acusações granquiloquentes para problemas minúsculos. Enfim, o de sempre, imagino.

Mais do que isso. Percebo, pouco depois, que data indicada na coluna é atualizada no navegador da internet. Isto é, o texto não teria sido escrito necessariamente naquele dia. E não fora. Era de ao menos seis meses atrás.

A surpresa fica por conta da insistência em não perceber o óbvio: no país das irrevogabilidades revogáveis, dos cartões vermelhos em teatrinhos ridículos, dos deixa-disso e toma-lá-dá-cá, cada vez mais faz pouca diferença a data da edição.

Denúncias políticas tornaram-se porções corriqueiras no menu indigesto que a democracia brasileira insiste em servir. Somos feito de palhaços diariamente e ainda temos de engolir Sarney dizendo que “é melhor o pior Parlamento do que Parlamento nenhum”.

É assumir a mediocridade, assinar embaixo da incapacidade de reagir em vez de propor que melhor ainda seria um parlamento ao menos razoável, com congressistas que não zombassem de quem os elegeu.