(Publicado originalmente no Comércio do Jahu em 24.01.200)
O recém-lançado A Mídia dos Jovens, relatório produzido pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e pelo Instituto Votorantim, é resultado da análise de notícias direcionadas ao segmento juvenil durante dez anos - especialmente no biênio 2005-2006. O material mostra a evolução da atenção dada pela mídia a esse público e traz informações cuja repercussão extrapola os veículos de comunicação.
Nos primeiros anos da década de 90, quando surgiram as primeiras revistas e suplementos em jornais, havia uma visão estereotipada do jovem como alguém rebelde, problemático e alienado. Demorou pouco para esse viés deixar a cena nos meios de comunicação. O espaço foi ocupado, após algum tempo de trabalho nesse segmento e algumas pesquisas, por percepções mais amplas: o jovem passou a ser notado como alguém disposto a ter papel mais ativo na comunidade; notou-se a heterogeneidade dos grupos e o anseio por protagonizar as mudanças que eles vislumbram para si e ao seu redor.
O impacto disso resvala para a escola e respinga na família, pois a expectativa do adolescente quanto aos meios de comunicação é justamente que eles expliquem ao menos parte do mundo para eles, uma vez que meios tradicionais – escola e família – parecem não dar conta de tudo.
Em parte, isso parece estar ligado ao aumento maciço da quantidade de informação disponível.
Nos últimos dez anos, tanto a segmentação do mercado editorial impresso como o conteúdo televisivo e o tráfego na internet promoveram uma disponibilidade inédita de informação. Um olhar basta para perceber a variedade de programas na tevê, cujos temas vão de seriados adultos sobre relacionamentos homossexuais a desenhos infantis específicos para crianças em processo de alfabetização; nas bancas é possível encontrar revistas destinadas a etnias específicas, a públicos com interesses idem (gamers, viajantes alternativos, adeptos do heavy metal, etc.). A internet e as mídias eletrônicas têm experimentado um crescimento inaudito que começa a dar vazão a novas formas de se relacionar, consumir e até mesmo de se auto-afirmar.
Em meio a tudo isso, a percepção dos veículos de comunicação dirigidos ao público jovem resultou em algo interessante. Após um período de “refinamento” das pautas possíveis, tem crescido na mídia o número de abordagens com relevância social, com contribuições para a formação de cidadania e respeito à pluralidade. Matérias e reportagens vêm priorizando temas vinculados à educação, comportamento e defesa dos direitos; mesmo política, tida como uma área pela qual o jovem teoricamente nutre aversão, ganhou novos contornos na mídia: em quatro anos, aumentou em 40% o número de adolescentes entre 16 e 18 anos dispostos a votar. Entre 2004 e 2006, 14 dos 18 suplementos analisados apresentaram mais de 50% de conteúdo socialmente relevante em suas páginas, desde reportagens sobre prevenção à aids e gravidez precoce a notícias sobre vítimas de diversos tipos de violência.
Esse quadro evidencia a responsabilidade intrínseca à atividade jornalística quanto à formação do jovem, pois ele não busca apenas informação. Exige análise, pede explicações, cobra interpretação. Essa característica é algo que surge também em educação quando se busca conhecimento aprofundado em vez do conhecimento factual: explicar, conceituar e compreender a relação entre a informação e a vida coti-diana, em vez de apenas apontar fatos. É quando tanto o conteúdo de mídia quanto a escola ganham um novo sentido e podem despertar outros olhares.
Em tempo: o relatório A Mídia dos Jovens pode ser encontrado na internet em www.andi.org.br e a relação entre conhecimento factual e aprofundado é citado no livro Como as Pessoas Aprendem – Cérebro, Mente, Experiência e Escola, da Editora Senac.