Luz no fim do mundo
Há pouco, tentava consertar um lustre com um olho nele e outro no fim do mundo. Entrado em anos desde que ganhou o posto na sala de jantar, o dito cujo exigiu enfim certa manutenção. A hora não poderia ser pior, pois na tevê os arautos da desgraça alternavam entre o colapso iminente da economia planetária – quiçá, universal - e os riscos de sermos soterrados, mais hora, menos hora, por uma merecida chuva ácida que haverá de limpar da face da terra os pecadores todos.
A julgar pela histeria, os riscos de um overlapping financeiro nas bolsas, seguido de brutais elevações no spread dos principais bancos mundiais e combinado com variações cambiais regidas pelo horóscopo inca são uma ameaça muito mais severa do que a chuva ácida.
Presidentes e ministros correm à televisão acalmar velhinhas poupadoras e megainvestidores lustrosos, cautelosos ensaiam compras em massa de água mineral, pilhas e comida desidratada antes de fugir para as montanhas e abrigos nucleares.
Estupefato, tento decidir entre esconder documentos e um estoque de carne-seca na gruta ou finalizar o conserto do lustre.
Depois de três dias sem luz, acho que o fim do mundo pode esperar mais um pouco.
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