Qualquer nota
Começo de madrugada e o micro ainda ligado. Um meio termo entre as sobras do dia, o por fazer e o hábito, adquirido nas redações, do trabalho noturno. Uma conferida rápida em alguns jornais e paro na coluna política de uma edição local de Jaú. No cardápio, algumas notas a respeito de bastidores na Câmara, idas e vindas a Brasília para o eterno pedir de verbas, desafetos trocando figurinhas, partidos que ora estão com uns, ora com outros, acusações granquiloquentes para problemas minúsculos. Enfim, o de sempre, imagino.
Mais do que isso. Percebo, pouco depois, que data indicada na coluna é atualizada no navegador da internet. Isto é, o texto não teria sido escrito necessariamente naquele dia. E não fora. Era de ao menos seis meses atrás.
A surpresa fica por conta da insistência em não perceber o óbvio: no país das irrevogabilidades revogáveis, dos cartões vermelhos em teatrinhos ridículos, dos deixa-disso e toma-lá-dá-cá, cada vez mais faz pouca diferença a data da edição.
Denúncias políticas tornaram-se porções corriqueiras no menu indigesto que a democracia brasileira insiste em servir. Somos feito de palhaços diariamente e ainda temos de engolir Sarney dizendo que “é melhor o pior Parlamento do que Parlamento nenhum”.
É assumir a mediocridade, assinar embaixo da incapacidade de reagir em vez de propor que melhor ainda seria um parlamento ao menos razoável, com congressistas que não zombassem de quem os elegeu.
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